quinta-feira, março 19, 2015

DIÁRIO DE BORDO, PARIS 2015 #01

19 de março de 2015. Finalmente, Paris. Finalmente pois a viagem foi difícil. A empresa aérea TAM, famosa em problemas nos ares resolveu atrasar o voo em 05 horas. Previsto para sairmos as 23hs, foi anunciado mudança para as 23h30, depois para a uma da manhã, duas e finalmente: 04hs. Pedi a mudanças de voo, cancelamento da entrada na imigração, fui no check-in retirar as malas. "Volte amanhã, duas horas antes do voo e você as pega". Nem pensar, quero agora. Espero. Uma hora depois: "Senhor, não foi possível reaver suas malas. Elas vão para Paris". O quê? Então eu também vou. Minhas malas, meus livros, minhas roupas não podem ir sozinho. "Senhor, lá vai para o setor LL e depois o senhor pode retirar". Ahã, sei. E Papai Noel vai aguardar junto, com um presente para mim. Não, quero ir agora. E fui, finalmente depois de 05 horas. Mais 11 horas de longa viagem, dois filmes, pés inchados e insônia depois, cheguei em Paris. Exatamente as 19 do horário local. Resultado: perdi a minha primeira atividade, na Science Po, excelente centro de estudo em Poitiers. Paula minha editora foi. Disse que os alunos estavam ansiosos, me aguardando. Haviam inclusive estudado, decorado trechos de minhas obras, em português. E não pude ver. Triste. Fica para a próxima.

#JeSuisFavela: ou devo ter cara de outra coisa. Por quatro vezes tomei um "enquadro" no aeroporto: passaporte, quanto tempo em Paris, o que vai fazer, escritor, ok, merci. Não sei se foi minha touca, minha careca, minha roupa, minhas malas, eu sei que outras pessoas passavam batidas, eu era parado. Na imigração, o policial pediu minha passagem de volta, quanto dinheiro eu tinha, cartão de crédito e só liberou depois de ler, minuciosamente, a carta de convite do Salão do Livro. Daí você pode dizer: normal. Não sei. Observei que com as outras pessoas foi mais fácil também. Ok. Faz parte. #Segurança...

Cheguei as 20h30 na cidade. Provisoriamente na casa de Paula, depois vou para o hotel. Deixei as malas fui dar uma volta nas ruas. Respirar o ar livre, sentir a brisa da cidade. Faz frio. Temperatura na casa dos 10 graus. Estava com fome. Primeiro desafio: vencer a vergonha de não falar francês, o fato de entender minimamente inglês mas eles não gostarem de falar em inglês e escolher um prato, pedir comida. Foi em portunhol selvagem, em um restaurante, não sei se turco. Era arabe. Um kebab. Gigante. Prato suculento. Na TV: Barcelona versus Manchester City. Neymar livre na grande área, mandou bola na trave. Quando saí, ainda estava 0 x 0. Depois vi que Barcelona se classificou.

Ainda confuso com o fuso, fui dormir a meia-noite. Estava bem agasalhado, mas o edredon era pequeno. Senti um pouco de frio. Acordei cedo, oito e pouco daqui. Já resolvi alguns problemas do Brasil, pensei na minha esposa e na minha filha, na minha família em geral. Na saudade de estar aqui. Tenho uma entrevista em uma rádio local, marcado para as 16hs. Pediram para escolher uma musica. Pensei em "Racionais - Vida Loka, Parte II". Por conta principalmente de um trecho que ficou na minha mente, desde que vim pra cá: "Pode rir, ri mas não desacredita não". E quem poderia dizer que  literatura marginal, que os nossos saraus de quebrada nos levariam tão longe. E ainda são tantos lugares a serem visitados. E ainda há tantos guerreiros e guerreiras merecedores de também estar aqui, assim como eu. As portas (para nós) são poucas, estreitas. Algo que penso quando participo de eventos como este é sempre em abrir mais portas, alargar as que existem. Estou aqui hoje, além da qualidade, do valor do meu empenho e trabalho, porque já fizeram isso antes. E sou agradecido. E tenho essa responsa nas mãos. Então, assim seguimos.

10h30 da hora local. Daqui a pouco parto para o hotel. A tarde, abertura do Salão. Muito trampo pela frente. E conhecer a cidade, que ninguém é de ferro. Para a minha família, Mô, Malu: se cuidem. Fiquem bem. Daqui a pouco estou de volta.

R.C.

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